publicado em: Paisea
O museu provincial de Lugo tanto pelo seu valor comunitário
como pela sua carga histórica, de alguma forma, representa a passagem do tempo
e a evolução histórica tanto com a sua arquitectura como com o seu conteúdo.
Com esta proposta pretende-se herdar este carácter fazendo a evolução para o
presente.
O Claustro objecto de intervenção, de planta quadripartida
representa simbolicamente o jardim do éden cruzado pelos rios Tigre e Eufrates.
Esta configuração é extremamente característica e contém um significado e
simbologia muito ricos que se pretendem conservar e valorizar.
Procurando referências no contexto do museu o tema de
epigrafia surgiu como um marco apropriado para implementar as ideias e
estratégias pretendidas.
A transposição de elementos presentes no museu para o
claustro dá lugar a uma interacção/ conexão entre o interior e o exterior.
A epigrafia romana presente no museu, de relevância
histórica no contexto da Galiza e sobre tudo na cidade de Lugo, justifica a
importância que se lhe atribui nesta intervenção.
A técnica de gravação permite criar formas e texturas muito
interessantes acrescentando riqueza visual.
Pretende-se que este jardim seja interpretado de diferentes
formas ao longo do tempo e do espaço. A utilização de textos e a sua orientação
permite fazer um jogo com a interpretação plástica das letras e o seu
significado.
Tendo em conta estes factores a proposta compõe-se pelo
revestimento dos quatro canteiros existentes com vegetação de revestimento (sedum sp) criando uma base onde são “gravadas”
palavras. As palavras foram extraídas das inscrições romanas existentes no
museu, dimensionando-se de forma aleatória numa tentativa de criar texturas e
ordenando-se de forma linear respeitando a linha da fachada. A leitura das
letras maiores de cada um dos canteiros revela, além do mais, a mesma mensagem
que as inscrições das pedras que foram recolhidas. Desta forma cria-se um novo
valor no jardim, o mistério.
A intenção é motivar os visitantes do museu a percorrer o
claustro procurando o ponto de vista mais cómodo para ler os textos gravados
entre a plantação. As linhas onde se inserem as palavras orientam-se de forma
diferente consoante o quadrante em que estão inseridas de forma a potenciar a
circulação pelo claustro para se poderem ler os textos. Por outro lado, o
claustro, visto ao nível do chão entende-se como um claustro clássico, onde as
letras imprimem uma textura às plantações semelhante às de um canteiro
tradicional em topiaria e quando sobe o ponto de vista do observador, os
canteiros transformam-se num desenho moderno de letras e texturas. Neste
sentido, a apreciação do espaço desde o próprio claustro é totalmente diferente
da vista desde uma janela do primeiro piso.
A eleição do material vegetal tenta introduzir variações
sazonais ao longo do ano. Desta forma o sedum
sp adapta-se perfeitamente as condições de mínima manutenção, textura de
superfície uniforme, além do mais de ir alternando a sua cor de verde no verão
o vermelho intenso do inverno, propiciando um jardim que vai mudando ao longo
da estação.
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